Eu me vejo de cabelos brancos,sentadinha em uma cadeira em movimento vem-e-vai e sobretudo,escrevendo.


(Ana Stefana Lisboa)

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Cúmulo da fadiga

Só peço que não atice a minha fadiga.
Por natureza, costumo cansar do que me traz cansaço.
Canso da história, dos hinos, dos personagens e de suas respectivas desculpas.
Mas ainda assim, aguardo e prolongo a desistência. Tenho cautela e frequentemente lembro das citações populares:
- Cuidado pra não ser arrepender, muié!
O arrependimento acontece quando lá na frente ou alguns segundos depois, a sua mente te aponta o dedo e diz:
- Eu deveria ter feito diferente.
Mas, e quando você apronta o anzol, coloca a melhor isca e posiciona bem perto da boca do peixe?
Mas, e quando você já aprontou 45 anzóis, 578 iscas e o peixe nem sequer ameaça a comer?
E, quando além do cansaço de preparar tudo, o infeliz nem se move.Então, resta-nos o acúmulo da fadiga e a mente de novo acusa:
- É a isca que não é muito boa!
Engano seu, mente.
Nesse caso, é o peixe que não sabe discernir um bom alimento.


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Encanto e desencanto

A verdade seja dita: aperto play fácil pra jogar, basta que um outro alguém também tope.
Estendo a toalha na mesa e faço o melhor café.
Aproveite.
Forro o piquenique com frutas vermelhas e posiciono a nossa rede.
Aproveite.
Pinto, bordo, monto o circo e picadeiro.
E ouço da platéia:
- Again?
O público além de bom entendedor também fala inglês, só ainda não entendeu do contrário.
Pause no jogo.
Tirando toalha e requento café de três dias atrás.
Não forro piquenique, não tem frutas e nada para segurar a rede.
Apago, desbordo, desmonto o circo e o picadeiro junto.
- Entendeu, platéia?!
Isso é um caso à parte que acontece.Acredite, se quiser.
Mesmo sem terem visto o contrário.
Mesmo assim-tão-meio-muito-raramente.
Eu consigo desencanar.
Desencanar do encanto.
Meus parabéns!



quarta-feira, 27 de junho de 2012

Sentimento


- Vamos, anda. É preciso pressa para retirar boa parte das coisas de lá!
Abrimos juntos a porta e entramos na ponta dos pés.Te olhei de lado e notei suas malas, suas mãos e seu desgosto de ter que partir. Eu sei, eu sei, é difícil amontoar tudo,todos aqueles pares de sapatos que um dia você largou pela sala, suas roupas no varal e seus pertences íntimos no banheiro que de vez em sempre você me pegava usando.
Certamente algo ficará por aqui, algum pertence deixarás aqui, no canto, atrás da cortina pra que haja lembrança. Não temos como recolher tudo e eu também não quero. Quero lembrar e sorrir.
- Não derrube nada, não podemos acordá-los - briguei.
- Sim,senhora.
Me respondeu como se fosse um quartel militar.Sim, eu sei que sou.
- Não arraste a mesa, cuidado! Eles não podem acordar! - briguei de novo.
(Fez-se silêncio)
Aproveitei pra te mostrar as costuras na cortina da cozinha, as porcelanas coladas e o porta-retrato trincado e apontei:
- Eu não quero é isso aí,remendar mais pertences. - cochichei como calma no pé do seu ouvido.
Balançou a cabeça com se quisesse dizer algo, mas não disse.
- Anda,anda, ordena as coisas! Eles podem sentir sede e levantar para tomar uma água!
- Eles quem,minha senhora? - notei certa frieza na sua pergunta.
- Os sentimentos, meu bem!

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Frutos do mar

Pois bem,dia excelente para confessar,até porque caso religiosamente o desabafo com o alívio.

O estresse batendo às portas e a paciência correndo atrás do meu ônibus - só que no sentido contrário.Já não sei mais se tenho A Love Fancy pelas pessoas e suas histórias/estórias ou se realmente eu perdi o feeling,sensibility,susceptibility,sensation e tudo que possamos associar ao ato de suportar o próximo. Paciência,meus marinheiros! O mar anda muito agitado e os tribulantes estão achando que temos que engolir sem um gole d'àgua os mariscos e mexilhões.Proezas antigas em que fazíamos das lagostas um comprimido.Sem tolerar ignorâncias,extravagâncias (incluindo tudo que se associe ao extremo),falatórios na sala do trabalho,o silêncio ao invés do "bom dia,senhor" e outras coisitas mais.Mas tem duas ladainhas que já não posso ver nem pintadas de ouro são a falta de reconhecimento e outros peixes com espinhos bem afiados,os quais não são dignos de serem expostos aqui.

Haja água,haja dentes para mastigar as pessoas.Qualquer dia desses,acordarei banguela.