Eu me vejo de cabelos brancos,sentadinha em uma cadeira em movimento vem-e-vai e sobretudo,escrevendo.


(Ana Stefana Lisboa)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Não é assim,minha flor

Me bate uma certa aflição do que pode estar acontecendo com você - o que na verdade,até agora não sei -mas consigo sentir seus passos curtos e intensos aparentando um certo cansaço,angústia.Sinto que em meio ao trânsito do Rio,tu sentas na calçada em plena hora do rush,abandonada e desfalecida.Eu tenho um medinho que a cidade te devore ou até mesmo que tu cesses a tua vida atirando-se na frente de lesmas.Eu tenho um medinho que tu dissolvas,atravesses aqueles ralos imundos e que simplesmente suma.Não digo sumir fisicamente e sim, que sumas da pior maneira : perdendo o prazer de viver.Eu sei que às vezes nos sentimos um tanto fracas,frágeis.Mas não é assim,minha flor.Tu chegas no seu lar e trancas seu corpo,alma e espírito à sete chaves e morres de chorar.Choras tanto quanto os finais de tarde em pleno verão carioca e repito não é assim,minha flor.Não deixes ninguém tirar essa vontadezinha de viver.Consegue pensar na gente,na nossa alegria ?Então minha flor,vem comigo.Deixa pelo menos eu tentar te ajudar.Eu sinto que existe pelo menos uma gotícula de vontade de ser feliz,uma gotícula de vontade de sair dessa.Lembre-se que pensar,amar é extremamente normal,agora desgostar de viver ? Será que realmente vale a pena rasgar as suas vestes em prol de um outro ser humano? Ah minha flor,nós,humanos,somos um tanto incertos,inconstantes e falhos e tenho certeza que não vale.Não tenha medo de ser feliz sozinha,minha flor.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Bye,ventinho

Me abandonava ali,observando e analisando a direção do vento,a movimentação dos membros inferiores de estranhos,os fatos ocorridos e suas consequências.Tudinho pela brecha desta janela fosca que ainda me sobraste.Sentada num sofá em posição inclinada e fabricado exatamente com o molde do meu corpo,soando um ar de flexibilidade e descanso.Ouvia atentamente vozes,sussuros,suspiros e a correria das pessoas.É um tanto complicado permanecer anos sentadinha aqui,inclinando o meu rosto sabiamente permitindo que sentisse aquele ar fresco e contentando-me com apenas 5cm de visão de mundo lá fora.Me sentia presa com trinta e sete correntes e vinte e três cadeados.Consegue me entender?Que vontadezinha de presenciar essas situações de uma forma mais intensa mas faltava-me bravura.Tudo uma questão de co-mo-di-da-de.Até que um dia desses,notei uma porta suavemente aberta à frente desta janela,analisei com um olhar àgil e rapidamente saltei do meu queridíssimo sofá e escapei por aquela porta na ponta dos pés movimentando os lábios,sem transmitir nenhum ruído : Bye,ventinho!

domingo, 1 de agosto de 2010

37,5

E quando o fim de semana chegava,eu não resistia.Com uma tremenda dificuldade,calçava meu predileto sapato dourado com a esperança de que eles dariam um descanso aos meus pés.Pura bobagem.Eu sintia falta da mobilidade que meus dedinhos tinham dentro deles;espremiam-se,encolhiam-se,brigavam entre si e suavam.E agora? Meu único e predileto sapato não cabe mais em mim. Na verdade,a minha ida aos shoppings centeres à procura de um novo sapato - amor - foi em vão.Não acho sapatos com meu número.Não acho ninguém que encaixa-se comigo.Trinta e sete e meio.37,5.Agora entendo porque são únicos.Meus sapatos não são calças de strecth.Sim,as calças de strech se moldam ao corpo.Sim,os pés se adaptam aos sapatos.Mas quando as pernas crescem ?Mas quando os pés crescem ? As calças encurtam,os pés não entram nos sapatos.Chega uma hora,que eles apertam tanto,mais tanto que a única opção é renunciar.Nossa,e como me doí re-nun-ciar.Enquanto isso,ando com o contato direto no chão,na areia - que maravilha de contato.Sem qualquer pressa para comprar sapatos novos,amor novo.O coração cresce.Às vezes é até difícil diferenciar o amor da comodidade.Talvez um dia,nomeei a comodidade em amor,paixão,coração acelerado,frio na barriga,consideração e outras coisas boas mais.